Clube de Leitura de Peças de Teatro

O Despertar da Primavera

Em Estudo

"O Despertar da Primavera"
Wedekind

Quando

3 de Setembro, 2019
21h00

Onde

CAVA
Rua D. Duarte, n.º 53

Ao longo do ano tiramos alguns dias para ler e discutir uma obra da dramaturgia mundial. Ler para imaginar as soluções possíveis para o texto quando posto em cena. No fundo, trabalho de mesa em que antecipamos o momento de “levantar” o espectáculo. Antes de os actores pisarem o palco, pisa-o a nossa imaginação e a investigação sobre os elementos dramatúrgicos. Talvez a leitura de um texto de teatro se confunda com o exercício de o reescrever, traduzi-lo, pelo menos, numa nova linguagem. O que se propõe nestes encontros é, portanto, o estudo aprofundado das obras, e a estimulação das soluções criativas para as colocar em cena.

sobre a obra

Era talvez primavera. Eu estava no parque do Museu do Teatro, no Lumiar. O dia estava limpo, e comecei por ler a biografia do autor. Estava sentado num banco de jardim, à sombra. E foi assim, numa espécie de onda rápida, ou como pano que se passa sobre uma mesa suja, que li o “Despertar da Primavera”, de Frank Wedekind. Íamos começar a ensaiar um outro texto dele, no Teatro da Cornucópia, e sempre me tinham falado do texto – prometendo que havia de ser o Teatro da Cidade, com o elenco que ainda o forma, a fazer aquelas personagens. Não foi; e talvez nunca o seja. Digo-o porque, e vamos perceber isso no clube de leitura, acho, este texto é o retrato brilhante de um momento doloroso, e há uma espécie de afinidade necessária para o fazer. Creio que as personagens que aqui estão retratadas têm de ser, de facto, miúdos. E sempre que penso neste texto penso em dores de crescimento, como se pudesse sentir a dor de ossos que crescem, carne que endurece, dentes que se endireitam, aquela estranha e comovente melancolia de um amor adolescente. As saudades do futuro. Este é um texto inevitável. Se eu mandasse, todos o leriam a certa altura. Há uma impressão de qualquer coisa essencial, e a sempiterna descrição das diferenças geracionais. Vivemos num mundo que não é para nós, herdamos regras que não nos servem. Estamos a descobrir o mundo; e o nosso olhar deve ser livre, devem ter lágrimas de espanto estes olhos virgens. Li-o, era talvez a primavera de 2016, e falo dele de memória: este texto que carrega consigo qualquer coisa de essencial.

– Guilherme Gomes

Frank Wedekind junta-se ao conjunto de autores da dramaturgia mundial que temos andando a ler no clube de leitura de peças de teatro, do projecto CRETA. Depois de August Strindberg, e Henrik Ibsen, a Wedekind ainda se há de juntar, em Novembro, Samuel Beckett.

Na CAVA - Rua D. Duarte, n.º 53