Conferência de Imprensa: CRETA, um labirinto em Viseu

06/17/2019Uncategorized

CRETA tem como subtítulo laboratório de criação teatral, porque pretende ser um projecto com as características de um laboratório, isto é, um lugar de experimentação e descoberta”, é desta maneira que Guilherme Gomes, membro do Teatro da Cidade, director do projecto, apresenta CRETA – laboratório de criação teatral, promovido pelo Teatro da Cidade e apoiado pelo Município de Viseu, através do plano VISEU CULTURA. Até ao final de 2019, CRETA apresenta espectáculos de teatro, recitais de poesia, oficinas de figurinos, encenação, e produção, clubes de leitura, e encontros-debate, cumprindo os vectores a que o Município de Viseu procura responder “programação, criação e formação”, como reforçou Jorge Sobrado, vereador da cultura do Município de Viseu, que acrescenta que “não há ambientes culturais saudáveis que sejam fechados, um ambiente cultural e artístico estimulante é um lugar de diálogo, aberto. Para usar a metáfora em que assenta o projecto CRETA, é um labirinto com entradas e saídas, ou, pelo menos, soluções”. Desta forma, para além de actores locais, CRETA convida criadores que não estão sediados em Viseu a dialogar com a cidade. É o caso da companhia Primeiros Sintomas, uma companhia de teatro sediada em Lisboa, com um percurso sólido, afirmando-se como uma das companhias de referência da actualidade, que apresentará em Viseu, no mês de Outubro, o espectáculo “A História Assombrosa de Como o Capitão Michel Albam Perdeu o seu Braço”, do Polo Cultural das Gaivotas e Espaço Alkantara, que orientarão uma Oficina de Produção na segunda metade do ano, e de Luis Miguel Cintra, que está em Viseu para criar o primeiro espectáculo produzido pelo projecto CRETA, “Ermafrodite”, um espectáculo-conferência sobre o casamento, com textos de Camilo Castelo Branco, colados pelo próprio Luis Miguel Cintra. O espectáculo estreia no dia 27 de junho, na Incubadora do Centro Histórico, em Viseu.

Jorge Sobrado sublinhou ainda que este projecto parece derrubar as fronteiras entre o público e o teatro, convidando o público a dialogar com os criadores, ou os bastidores da criação. “CRETA é um projecto teatral indirectamente, uma vez que pretende contribuir para enriquecer o caminho que leva à criação de um espectáculo, mais ainda do que fazer espectáculos, tentar com isso contrariar a mediocridade que se vai sentindo um pouco por todo o lado. Não que saibamos fazer algo melhor, mas confiando que através do diálogo podemos chegar a essa solução”, confirma Guilherme Gomes, na véspera do primeiro clube de leitura, em que se abordará a obra do dramaturgo August Stindberg. “Formam-se criadores, mas também se forma público”, comenta o vereador.

A primeira manifestação de CRETA aconteceu em Maio, com o recital dedicado à obra de Ruy Belo; o mês de Junho fica marcado pela estreia de “Ermafrodite”, encenado por Luis Miguel Cintra; em Julho CRETA marcará presença no festival Mescla, promovido pelo Município de Viseu; para além das actividades regulares, Setembro destaca-se pelo segundo recital de poesia, dedicado às palavras de Bernardim Ribeiro; em Outubro promove-se a ida da companhia Primeiros Sintomas a Viseu; Novembro é o mês do terceiro recital de poesia, dedicado ao período Romântico; em Dezembro estreiam-se duas criações de CRETA: “lamento de ĉiela”, com texto e encenação de Guilherme Gomes; e “Península”, uma criação de Sofia Moura.

© Texto de Guilherme Gomes. Fotografias de Luís Belo

Segunda Carta de CRETA

06/02/2019Newsletter, Guilherme Gomes

Olá,
Escrevo directamente da Primavera, sentindo os anúncios do Verão. Não é raro encontrar na literatura, e nas conversas tidas ao longo dos dias, referências à ligação que existe entre o tempo quente e o tempo do amor. Há de chegar o Verão, e com ele todos os cuidados. Junho é um mês em que tudo isto começa a ganhar forma, afinal é o mês da transição de uma coisa para a outra; e em CRETA, usamos a circunstância para pensar.

O mês começa com a segunda sessão da Oficina de Figurino: O Princípio de um Vestido, com a orientação da Rosa Cotinha, logo no dia 1, das 15h às 19h, na SALA 5 – Edifício Centro Comercial Ecovil – Rua do Comércio, n.º 58. Numa curta correspondência que troquei com Rosa, falámos sobre o caminho que se faz para chegar a um vestido: eu contava-lhe que procurava no que visto sintomas de uma espiral; ela respondia-me com o Homem de Vitrúvio. Imagino que tudo isto passe pela ideia de que para vestirmos uma pessoa temos de a medir, e medir uma pessoa é um gesto carregado de simbolismo; uma oportunidade para pensar sobre harmonia, sobre a forma do nosso corpo, a nossa proporção, a nossa, apesar de tudo, reduzida dimensão física. Enfim, propomo-nos pensar sobre o figurino, acabamos com ideias existenciais.

Um processo que sempre achei fascinante é o de ler em conjunto, descobrir em conjunto os segredos que guarda um texto. Vamos conhecendo, enquanto espectadores, algumas formas, por vezes contrastantes, de fazer teatro. Este Clube de Leitura é sintoma de um género de abordagem ao exercício teatral: um processo que coloca o texto no centro do trabalho; que reconhece o tom e as características de cada obra e nos permite um mergulho no pensamento do autor, para o qual, enquanto criadores, convidamos o público. No dia 18 de junho inauguramos o Clube de Leitura de Peças de Teatro; uma actividade que abrimos ao público geral para estudarmos alguns textos da dramaturgia mundial. Este mês estudamos O PAI, de August Strindberg; uma peça em que assistimos à descrição de um ciúme, das dúvidas sobre a fidelidade numa relação. Em breve temos novidades sobre isso no nosso site – vamos lembrar-vos por email, não se preocupem. De qualquer forma, fica já a data: 18 de junho, às 21h, na Incubadora do Centro Histórico (Viseu).

Maio foi um mês inaugural em CRETA, com o início das suas actividades. Junho não o será em menos medida, já que é este mês que estreamos a primeira criação teatral do projecto CRETA: uma encenação de dois textos de Camilo Castelo Branco, por Luis Miguel Cintra – que é um mestre para mim, e um amigo com confiança bastante para aceitar a proposta de encenar algo neste contexto. Ao espectáculo, que procura ser uma palestra, chamou-se ERMAFRODITE. Não é erro de transcrição, é mesmo assim: uma mistura de Hermafrodita e Afrodite. A questão do amor, com que abri este texto, lá está. ERMAFRODITE é um espectáculo sobre o casamento enquanto instituição. Apresenta-se de forma cómica, com a ironia de Camilo, a que se acrescenta o olhar ousado e igualmente irónico de Luis Miguel Cintra. Eu faço parte do elenco, ao lado do meu companheiro de Teatro da Cidade João Reixa, e o espectáculo estará em cena nos dias 27, 28, e 29 de junho na Incubadora. E a propósito desta criação, Luis Miguel Cintra vai partilhar com quem queira ouvir algumas ideias sobre encenação, no dia 15 de junho, Incubadora. É mais uma das Oficinas, desta vez de Encenação. E parece-me uma oportunidade única para ouvir um dos que mais influenciou o teatro português nos últimos anos. Luis Miguel Cintra é uma referência teatral e intelectual.

Estou capaz de vos aconselhar a guardar na agenda estas datas; mas sei que sou suspeito.

Obrigado a todos os que nos vão acompanhando; a todos os que viram o recital “um dia não muito longe não muito perto”, alguns mais do que uma vez; a todos os que participam nas actividadades que promovemos; a todos os que connosco estabelecem diálogo. Afinal, é a falar que a gente se entende; e tenho a impressão de que são os outros que solucionam isto a que chamamos crescer.

Um abraço, directamente desta Primavera com anúncios de Verão,
Guilherme

© Ilustração de L Filipe dos Santos