Sexta Carta de CRETA

10/11/2019Newsletter

Tenho andado com esta ideia na cabeça: a importância de um lugar. Talvez influenciado pela Écloga de Jano e Franco, que ouvimos ao longo do mês de Setembro em CRETA, em que o Roberto Terra sublinhava a migração dos dois pastores que protagonizam o texto, pastores que são projecções de dois dos maiores vultos da poesia portuguesa: Bernardim Ribeiro e Sá de Miranda. A caminhada destes pastores-poetas lembra-me a série de Conversas Vadias de Agostinho da Silva, que orgulhosamente vagueava – e que também lemos este mês que passou em CRETA. E penso, empurrado por estas sombras, na importância de um lugar: de pertencer a um lugar, de ser recebido ou receber num lugar, de habitar um lugar, de chegar a um lugar. Como se constrói uma geografia? E é curioso pensar na própria natureza de um lugar: entre a física e outras dimensões.

De qualquer forma, entre lugares caminhamos. E Outubro começa com, precisamente, algumas ideias sobre a construção de sapatos. Não é completamente desconhecida a história de grandes actores que interrompem a carreira para aprender a fazer sapatos. Por aqui, também nos lançamos a esse desafio dando continuidade à série de oficinas em torno do fazer teatro. O Princípio de um Sapato acontece já este fim-de-semana, em duas sessões. Trata-se de um encontro que tem como fim último compreender o sapato como elemento cénico. Como é que compreendendo um sapato (neste caso alpergatas) pode ser mais ágil a sua utilização em cena? Já antes tínhamos feito este exercício com um vestido – havemos de o repetir com casacos.

Também em Outubro, vamos receber a visita de Bruno Bravo, da companhia Primeiros Sintomas, recentemente premiado na gala dos Globos de Ouro pelo seu belíssimo Tio Vânia. Falar-nos-á do Princípio de um Espectáculo. Ao longo da sua actividade, a companhia Primeiros Sintomas tem vindo a trabalhar em torno da adaptação de textos narrativos para teatro. Será sobre a caminhada entre esses dois lugares que o Bruno nos falará na oficina que acontece no final do mês.

Entre lugares vamos caminhando. Talvez trazendo ainda na sola dos sapatos vestígio do lugar anterior. Havemos de chegar, um dia, a esse extraordinário lugar plural. Por aqui, ficamos gratos por saber que não é uma caminhada solitária.

Um abraço,
Guilherme