Este é o princípio de CRETA. E não escondo o entusiasmo. Ao longo deste ano vamos ser companheiros nos caminhos da entusiasmante geografia de um labirinto. Digo que é o princípio e não escolho a palavra em vão: digo princípio, como quem diz essência. O mês de Maio em CRETA permite antecipar os elementos definidores da identidade do projecto; o mês de Maio em CRETA é, já, uma pista para a revelação do seu princípio.
Começaremos por reflectir sobre a individualidade, nessa reflexão reconhecendo a importância do outro. Talvez seja nessa relação que respondemos à proposta de Delphos: Conhece-te a ti mesmo – também essa proposta um labirinto. Que percurso é o que nos leva a nós mesmos? Que chegada nos devolve a partida? Através dos poemas de Ruy Belo, vamos conhecer caminhos apontados; assistimos ao pensamento de alguém que não foi alheio a esta inquietação. De Ruy ficam alguns dos mais belos versos escritos na poesia portuguesa do século XX – e como o século foi tão rico, talvez arrisque dizer que dos mais belos versos que se escreveram neste pequeno pedaço de terra a que chamamos Portugal. Ruy Belo escreveu o poema que mais me comove: Tu estás aqui. É um dos que podemos ouvir no recital um dia não muito longe não muito perto: um recital de poesia que se repete todos os domingos do mês (5, 12, 19 e 26), às 16h, na Sala da Lareira do Museu Almeida Moreira. Neste recital, junto-me à Sofia Moura para criar a sensação de corpos-fantasma que habitam uma sala de estar – lugar quotidiano – que, aqui, tem a particularidade de ser um lugar tornado frio, tanto quanto o possível naquele maravilhoso edifício, pela sua missão de museu. E a entrada é gratuita, mas a lotação para cada sessão é muito limitada; felizmente, já é possível reservar lugar nesta página.
É também em Maio que temos a primeira oficina: a ideia será munir aqueles que fazem Teatro em Viseu do máximo de ferramentas possíveis. A oficina de Maio serve para aprender a fazer um elemento de figurino; como se faz – ou pelo menos aponta – um vestido? Confio que, depois de saber o princípio (lá está ele de novo) de um vestido, talvez o pensamento se enriqueça, se torne mais exigente; talvez um vestido deixe de ser um elemento de figurino, para ser um veículo de pensamento. Se a lotação para o recital era reduzida, para a oficina é ainda mais! Em breve abrimos as inscrições para a Oficina de Figurinos: Como se faz um vestido? Convido-vos a estar atentos ao nosso site e redes sociais.
Imagino que em CRETA, bem no centro do labirinto, haja uma chama que arde eternamente. Essa chama que rompe a escuridão, a ignorância, os olhos brancos de uma dispensável cegueira. Talvez não seja possível chegar ao centro do labirinto, mas a cada passo na sua direcção é mais vulnerável a escuridão.
Em CRETA, Maio é isto.
Vamos dando notícias!
Guilherme Gomes
© Ilustração de L Filipe dos Santos